Em entrevista ao Valor, a Governadora Rosalba
Ciarlini, contou que está muito decepcionada com os que lhe viram as
costas no momento de dificuldade e que foi convidada pelo governador do
Ceará, Cid Gomes, a ingressar no recém-criado Partido Republicano da
Ordem Social (Pros), mas disse que ficará no DEM até o dia em que se
tornar um problema para o partido. A seguir, os principais trechos da
entrevista.
Valor: Em meio às vaias, a senhora tentava dizer que o tempo é senhor da razão. O que queria dizer?
Rosalba Ciarlini: Na realidade, quando assumi o
governo, encontrei a casa arrasada. Um governo desacreditado, com
débitos demais. Só com fornecedores, devia mais de R$ 850 milhões, o que
é muito para o Rio Grande do Norte. Também encontrei planos de carreira
aprovados sem previsão orçamentária. Tive que tomar medidas dolorosas,
que contrariaram interesses, sobretudo políticos. A gente deu um freio
muito grande para arrumar a casa, modernizamos a tributação, mas não foi
suficiente.
Valor: As dificuldades financeiras estão na origem das dificuldades políticas?
Rosalba: Na hora em que você diz muito ‘não’, deixa de ser bonzinho, de atender pedidos de políticos gratificar A ou B, você desagrada.
Valor: Quais os principais ajustes realizados?
Rosalba: Estamos, segundo o Ministério da Fazenda,
entre os melhores ajustes fiscais do país, o que nos deu condições para
recuperar a capacidade de pagamento e de endividamento. Tanto que
pudemos começar programas fundamentais, como um de universalização do
saneamento. Consegui esses recursos pelo PAC [Programa de Aceleração do
Crescimento] e outros financiamentos que foram possíveis. Estamos agora
com R$ 540 milhões do Banco Mundial.
Valor: Mas os policiais civis estão em greve e os salários de servidores, atrasados.
Rosalba: Desde o semestre passado está havendo
frustração de receitas do FPE [Fundo de Participação dos Estados], e
isso desorganizou minha expectativa. Apesar do crescimento do ICMS, não
foi possível suprir a queda do FPE. O próprio ICMS está crescendo menos,
reflexo da seca, que mexe com toda a cadeia econômica. Agosto já veio
com a queda grande e em setembro deu para pagar 93% [do total de
servidores]. Dos 104 mil servidores, 6,6 mil vão receber até o dia 10.
Pedi o sacrifício porque não dava pra tirar de outra fonte.
Valor: E os policiais?
Rosalba: A greve deles não é por salário. Eles
querem que a gente chame os 300 aprovados no concurso e estamos chamando
de acordo com a necessidade. Mas já estamos no limite da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Eles também cobram a retirada dos presos da
delegacia, o que já estamos fazendo desde antes da greve. Também querem
plano de saúde, mas não posso dar se não for para todos os servidores.
Valor: Então, o que explica as vaias?
Rosalba: É bom estar na democracia para isso poder
acontecer. Mas, infelizmente, sabemos que existem aqueles que reclamam
se eu andar no carro com a presidente. Há uma deputada do PT, por
exemplo, que ficou indignada.
Valor: O governo federal tem liberado recursos. Isso lhe aproximou da presidente?
Rosalba: Logo que a presidente assumiu, ela disse:
“Tragam bons projetos.” Passei um ano na luta para fazer projetos.
Tivemos que montar uma equipe para isso. A presidente não tem a mínima
discriminação por eu ser de um partido que não a apoiou. Uma identidade
surgiu entre a gente.
Valor: Mas a senhora pretende apoiá-la em 2014.
Rosalba: Estou passando por tanta dificuldade que
resolvi só falar de política em 2014. Agora, eu sou muito independente
nas minhas escolhas. Respeito a posição do partido, mas as minhas
decisões pessoais são minhas.
Valor: A senhora permanece no DEM?
Rosalba: Não tenho tido tempo de pensar nessa questão. Mas não estou pensando em sair.
Valor: Qual a sua avaliação sobre a situação atual do Democratas?
Rosalba: Temos duas capitais: Salvador e Aracaju.
Tínhamos dois governadores, mas o Raimundo [Colombo, de Santa Catarina]
saiu e o grupo do [Jorge] Bornhausen está saindo, então fiquei só. Por
ser de oposição, o partido tem tido baixas, mas teve lutas decisivas na
história, na redemocratização.
Valor: Mas o DEM reúne condições de seguir competitivo?
Rosalba: Tem condição e vai continuar. O Brasil é
imenso, não se pode confundir as questões locais. Não é que o partido
muda a ideologia, mas a questão local é muito forte.
Valor: Como estão as condições políticas para sua reeleição?
Rosalba: O PMDB disse que a saída da base foi uma
decisão política, não administrativa. Não haverá retaliação na
Assembleia Legislativa. É importante unir a bancada em favor do Rio
Grande do Norte e que cada um cuide das questões eleitorais no momento
adequado. Ser ou não ser candidata será avaliado no momento certo. Pode
ficar certo de que meu objetivo maior é mostrar o trabalho.
Valor: A senhora não diz que é candidata à reeleição?
Rosalba: Nem que não sou.
Valor: O próprio vice-governador do Estado, Robinson Faria (PSD), é candidato à sua cadeira. Como se deu esse rompimento?
Rosalba: Logo no começo do governo, ele mudou para o
PSD e começou a se lançar candidato. Eu disse que não podia, e isso foi
nos afastando.
Valor: A senhora convive no Nordeste com o governador Eduardo Campos. Como avalia a postulação dele à Presidência?
Rosalba: É uma novidade. Sou adversária do PSB
aqui, mas acho que ele fez um estrago [na base do governo federal]. Quem
imaginaria que isso ia acontecer. Uma pessoa com espaço tão
privilegiado… Acompanhei a primeira eleição dele ao governo, quando era
apenas mais um. Ele tem carisma, ele é bom de debate. Mas claro que
Dilma é forte, é fortíssima.
Valor: E quanto ao senador Aécio Neves?
Rosalba: Conheço melhor o Eduardo. Aécio deve capitalizar Minas, Goiás… O Sul e o Centro-Oeste… Vai ser uma eleição equilibrada.
Valor: O senador José Agripino (presidente nacional do DEM) não tem demonstrado entusiasmo em apoiá-la.
Rosalba: Minha relação com Agripino sempre foi
franca e aberta. Quando eu construí minha candidatura ao governo, ele
não veio comigo fazer a construção. Eleição você vai ter o momento da
definição. Vou sair daqui, como tudo que fiz na vida, de cabeça erguida e
mãos limpas. Na hora que ele não me quiser, vou tomar meu rumo. Durante
a história da minha presença no Democratas – a não ser que agora seja
diferente -, o partido não me deixou. E sei que o partido cresceu muito
em função da minha presença. Sou a única governadora, fui a primeira
senadora do Rio Grande do Norte.
Valor: O governador Cid Gomes convidou a senhora a se filiar ao Pros?
Rosalba: Foi uma ligação rápida, eu estava em Mossoró. Ele ligou dizendo que estava tomando essa decisão e perguntou do meu interesse.
Valor: E o que a senhora respondeu?
Rosalba: Que se eu tivesse interesse, a gente conversaria.