Dilma repete única estratégia que sabe: profusão de frases longas e confusas
Em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, nesta
segunda-feira, a presidente-candidata Dilma Rousseff usou a única
estratégia de comunicação que conhece: a profusão de frases longas e
confusas. Não houve grandes surpresas: com repertório limitado, a
presidente procurou repetir os discursos ensaiados que vem apresentando
Brasil afora. E demonstrou falta de flexibilidade quando confrontada com
perguntas que abordavam temas desconfortáveis.
A entrevista teve muitos momentos de atropelo: Dilma tentou dar
respostas extensas, frequentemente sendo interrompida pelos
entrevistadores. Por mais de uma vez, Dilma insistiu em concluir suas
longas explanações: ”Só um pouquinho, Bonner”, dizia. Dilma ultrapassou
em quase 50 segundos o tempo de 15 minutos destinado a ela.
Já na primeira pergunta, William Bonner tratou dos muitos escândalos
do governo e perguntou se era difícil escolher pessoas honestas para
preencher os cargos do governo. A presidente não respondeu diretamente:
optou por tratar das instâncias de combate à corrupção. “Nós fomos o
governo que mais estruturou os mecanismos de combate à corrupção, a
irregularidades e malfeitos”, disse ela, que também minimizou os
escândalos. “Nem todas as denúncias de escândalo resultaram em realmente
a constatação que a pessoa tinha de ser punida e seria condenada”.
A petista também escondeu-se convenientemente atrás do cargo e foi
evasiva quando o apoio do PT aos mensaleiros condenados foi colocado em
pauta: “Eu não vou tomar nenhma posição que me coloque em confronto,
conflito, ou aceitando ou não (sic). Eu respeito a decisão da Suprema
Corte brasileira. Isso não é uma questão subjetiva”.
Em seguida, Dilma afirmou que a troca de César Borges por Paulo
Sérgio Passos no Ministério dos Transportes – uma exigência do PR,
envolvido em casos de corrupção na própria pasta, para apoiar a
reeleição da petista – foi feita com base na integridade do nome
indicado pela sigla. “Os partidos podem fazer exigências. Mas eu só
aceito quando considero que ambos são pessoas íntegras e não só
integras, são competentes”, afirmou.
Quando o assunto foi economia, a estratégia foi a mesma: William
Bonner perguntou se o governo não havia errado em nenhum momento na
reação à crise internacional. A resposta foi o discurso-padrão
apresentado pela presidente nos últimos meses: ”Nós enfrentamos a crise
pela primeira vez no Brasil não desempregando, não arronchando salário,
não aumentando tributos e sem demitir”, disse ela.
Em um dos poucos momentos significativos da entrevista, a presidente
acabou admitindo que a saúde não está em padrões minimamente razoáveis:
“Não acho”, disse ela, antes de desandar a falar sobre o Mais Médicos,
uma das bandeiras de sua campanha.
Já com o tempo estourado, Dilma ainda tentou pegar carona na comoção
que tomou o país com a morte do candidato do PSB, Eduardo Campos, cuja
frase final no Jornal Nacional – “Não vamos desistir do Brasil”
– virou lema do PSB. ”Eu acredito no Brasil”, disse Dilma, que foi
interrompida uma última vez enquanto tentava pedir votos aos eleitores.
Foram mais de 15 quinze minutos de “dilmês” na televisão. Resta saber
se a estratégia da petista foi interpretada pelos eleitores como uma
simples retórica confusa ou se foram quinze minutos de uma presidente
que tem pouco a dizer.