Professora, Jéssica Lopes se
manifestou em frente à Secretaria de Educação de São Paulo: 'Só porque
sou gostosa não posso dar aula?'.
Jéssica Lopes, de lingerie, protesta em frente à Secretaria de Educação de São Paulo: "Dei um basta. O Brasil perdeu
uma excelente professora"(Foto: Thiago Duran/Ag News)
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Ela está chateada. Jéssica Lopes, a Peladona de Congonhas, decidiu
recorrer ao símbolo máximo do feminismo para se manifestar. Sozinha.
Cabelos escovados, vestidinho preto indefectível colado ao corpo, saltos
e um conjunto de lingerie matador, a loira decidiu queimar um sutiã -
tal qual as mulheres que protestavam por melhores condições na década de
1970.
Com uma garrafinha de álcool e uma caixa de fósforo, Jéssica fez seu
protesto solitário porque, como professora, não consegue mais emprego na
área. Sendo assim, decidiu mostrar sua indignação em frente a
Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Não sem antes, claro,
tirar o vestido e ficar apenas de lingerie para, digamos, chamar mais
atenção para sua condição de "mestre desempregada".
"Já acreditei na educação desse país. O que querem? Que eu coloque um óculos fundo de garrafa, roupas largas e tenha cara de nerd? Só porque sou gostosa não posso dar aula?", questiona ela, indignada.
Jéssica foi professora durante cinco anos. Formada em matemática conta
que sofreu preconceito desde a época da faculdade. "Diziam que eu saía
com os professores para ter notas como as que eu tinha. Só tirava de 8
para cima. E sempre fui estudiosa. Impressionante. Nesse país não pode
ser bonita e inteligente", dispara ela, que lecionou para adolescentes e
adultos em Porto Alegre, onde morava: "Dava aula em três períodos.
Ganhava cerca de R$ 2,5 mil por mês. Hoje, com dois eventos tiro isso".
A Peladona de Congonhas quis voltar às escolas no fim do ano passado.
Estava decepcionada com o mundo da fama e queria ficar mais perto do
filho Gabriel, de 13 anos, que mora no Sul. "Espalhei currículos e ao me
apresentar já sentia o preconceito. Não pensei que era tão famosa. Mas
todo mundo sabia quem eu era. E não uso nome artístico. É só jogar no
Google e nas redes sociais que me acham.
Sofri por fazer trabalhos sensuais", avalia ela, que pediu exoneração do
cargo de professora por não ser respeitada: "Meus alunos perguntavam se
eu tiraria a roupa como fazia em um programa de TV, os professores
diziam que eu deveria posar nua. Achei melhor optar entre os livros e a
vida de modelo".
Com o protesto, Jéssica diz que espera chamar a atenção para o
preconceito e para a educação no país, que, a seu ver , vai de mal a
pior. "Eu tentei ensinar aqueles adolescentes, dar um panorama do que é a
vida. Tentei ser amiga, e eles me tiravam. Então, decidi ser a
carrasca. Não mostrava os dentes e isso me fazia mal, porque não sou
assim. Dei um basta. O Brasil perdeu uma excelente professora", garante.
Caso o piloto de um programa de entrevistas vingue, Jéssica pode rasgar
seu diploma, pois dificilmente iria convencer algum diretor a
contratá-la: "No programa 'Jéssica Lopes entrevista', recebo convidados e
vou tirando a roupa enquanto faço perguntas. O convidado não sabe que
fico quase nua", conta. Agora todos sabem, Jéssica.
Carol Marques
do EGO, no Rio
Foto: Thiago Duran/AgNews