"Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado,
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado,
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração,
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho.
Que o craque do tempo chutou.” (Balada Número 7– Alberto Luiz)
Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado,
No campeonato da recordação faz distintivo do seu coração,
Que as jornadas da vida, são bolas de sonho.
Que o craque do tempo chutou.” (Balada Número 7– Alberto Luiz)
Manuel Francisco dos Santos nasceu no dia vinte e oito de outubro de
1933 na pequena localidade de Pau Grande (RJ) e faleceu no dia vinte de
janeiro de 1983, data dedicada a São Sebastião.
Foi ele
quem se tornou responsável pela volta do sorriso no Maracanã, depois da
trágica partida entre Brasil e Uruguai na final da copa de 1950, quando
acreditando que o jogo estava ganho, os brasileiros perderam
inacreditavelmente o que seria a primeira conquista da taça Jules Rimet.
As pernas
tortas e os dribles desconcertantes tornaram-se marcas registradas do
habilidoso ponta direita do Botafogo. A torcida da estrela solitária do
futebol carioca enriqueceu-se consideravelmente depois da contratação do
homem que entrou para a história como Mané Garrincha.
Convocado
para a seleção brasileira, em parceira com Pelé responsabilizaram-se
pelo desequilíbrio nos esquemas táticos das poderosas seleções européias
quando da copa de 1958. O Brasil sagrou-se campeão mundial pela
primeira vez. Garrincha e Pelé tornaram-se heróis nacionais.
Na copa de
1962, em gramados chilenos, Garrincha deu verdadeiros shows de bola,
levando ao delírio torcidas inteiras, independentes de nacionalidade,
com magnífico futebol-arte que encantou o planeta.
A
habilidade de Garrincha com a bola levou certo jornalista inglês a
indagar a Aymoré Moreira, técnico da seleção brasileira, se aquele
atleta realmente era desse planeta. A final da copa de 1962 contra a
Tchecoslováquia foi marcada pelos estonteantes dribles e passes do
humilde jogador com nome de passarinho.
A copa de
1966 marcou o ocaso da estrela do futebol brasileiro, pois em razão da
opção nefanda pelo consumo desenfreado de bebidas alcoólicas, aliada às
muitas contusões sofridas, fizeram com que Garrincha não rendesse nada. O
Brasil foi desclassificado na primeira fase.
Garrincha,
então, intensificou sua destruição dia após dia, despedindo-se do
futebol no ano de 1973. Dez anos depois falecia vítima de cirrose
hepática aguda. Morreu pobre e esquecido de muitos daqueles que em
épocas pretéritas fez a felicidade em dias de glórias marcadas pelo
sucesso de suas jogadas sensacionais.
Garrincha
marcou época, tornou-se ícone do esporte nacional, foi a alegria do
povo, responsável por momentos gloriosos do Botafogo carioca, fez vibrar
estádios com seus dribles mágicos que pareciam ter saídos de contos
mirabolantes envoltos na mais pura ficção, mas eram reais, notáveis,
verdadeiras pinturas do talento que ele não soube aproveitar.
A opção
pelo álcool destruiu um mito brasileiro, homem simples que levou
multidões à euforia em razão da forma caprichosa como sabia lidar com a
bola. Garrincha realmente foi a alegria do povo, pois fez brotar
sorrisos em rostos sofridos que enxergavam no anjo das pernas tortas
alento para aflições de vidas marcadas pelas desditas alimentadas pela
ausência de esperança.
Há trinta
anos falecia um dos maiores jogadores do planeta, cujas jogadas
inacreditáveis imortalizaram-no por séculos infinitos, enquanto houver
espaço para o futebol enquanto esporte.
*José Romero Araújo Cardoso é Geógrafo e Professor-adjunto da UERN.