quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Padre Quevedo, o 'caçador de enigmas', morre aos 88 anos


Morreu por problemas cardíacos na madrugada desta quarta-feira, dia 9, o jesuíta Oscar González Quevedo, conhecido como Padre Quevedo. Ele tinha 88 anos e ficou popular pelo bordão "Isso non ecziste", repetido por ele incontáveis vezes enquanto apresentou o quadro "O Caçador de Enigmas", que fez parte do "Fantástico", na TV Globo, entre janeiro e maio de 2000. O objetivo — do quadro e de toda a trajetória religiosa de Padre Quevedo — era desvendar fenômenos da natureza e desmascarar charlatões que se aproveitavam da fé das pessoas.

O velório será realizado nesta quinta-feira, no auditório da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte. Haverá, ainda, missa de corpo presente, no mesmo local do velório. Já o sepultamento acontecerá às 11h no Cemitério Bosque da Esperança, também na capital mineira.
Filho de um deputado católico espanhol que foi preso e fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola, Quevedo passou a infância em Gibraltar e estudou o espiritismo desde criança por influência de um tio espírita.  Aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus, e permaneceria entre os jesuítas até sua morte. Mudou-se para o Brasil em 1959, aos 29 anos, e naturalizou-se brasileiro na década de 1960.
Estudou áreas como humanidades clássicas, filosofia, psicologia e teologia, inclinando-se à parapsicologia, que encarava como uma ciência e uma missão — cabia a ela "dizer a verdade, para que acordem os que estão enganados".
Nesse papel de desmistificar fenômenos parapsicológicos, curandeiros e acontecimentos tidos como inexplicáveis, tornou-se figura extremamente midiática desde os anos 1970. Em diversas aparições televisivas e em entrevistas, confrontou-se com alguns dos mais célebros místicos do país, como Zé Arigó, João de Deus, Thomas Green Morton, INRI Cristo e o israelense Uri Geller. Escreveu mais de uma dezena de livros, tratando de temas como demonologia, curandeirismo e espíritos.
Atacava os curandeiros ("Nenhum deles procura outro curandeiro quando está doente"), afirmando que praticavam exercício ilegal da medicina e prejudicavam os doentes que os procuravam. Também voltou sua ira contra os espíritas ("O espiritismo é uma bobagem total") e mesmo contra seus colegas católicos.
— Os padres, na maior parte, são de uma ignorância tremenda. Que falem de doutrina sobrenatural, inobservável. Isso é religião, isso é teologia. Falar de fatos é ciência, é parapsicologia -- disse, em entrevista ao "Programa do Jô", na TV Globo, em 2012.
Sua popularidade voltou a crescer em 2000, quando, com seu característico sotaque espanhol, estrelou o quadro "O Caçador de Enigmas", no "Fantástico". Nele, investigou casos relacionados a casas mal-assombradas, gravações do "além" e supostas premonições.
Quevedo também atuou como professor de parapsicologia no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) e no Centro Latino-Americano de Parapsicologia (CLAP), que criou e dirigiu, na década de 1970.
Homem de formação religiosa, Padre Quevedo não era propriamente um cético — acreditava nos milagres reconhecidos pela Igreja ("Mas não ocorrem na proporção que muita gente acredita") e numa ressurreição católica.
— Quando morremos, vamos trocando esse corpo corrompível e vamos ressuscitando num incorruptível, glorioso —, afirmou na entrevista a Jô Soares. — Mas esse corpo glorioso, espiritualizado, não se pode ver. Não existe espírito de mortos. Há homens vivos e mortos.
Zombava dos que criam em reencarnação, demônios e temas correlatos, mas acreditava em fenômenos paranormais como a telepatia e a telecinese -- a capacidade de mover objetos à distância (desde que não maior do que 50 metros, segundo ele), com o poder da mente.
Dizia nunca ter tido medo da morte. Para ele, este era o "momento mais importante e mais feliz" da vida.
— A morte tem esse contra-instinto de conservação, mas é o momento mais importante e mais feliz da nossa vida. É a porta que se abre e que nos leva a Deus, infinita beleza, infinita bondade, por toda a eternidade.

FONTE: O Globo